terça-feira, 27 de setembro de 2011

UMA TARDE MUITO QUENTE e EU, EU?


uma tarde muito quente

O  sussurro do arroio
o batuque da chuva
o violino do vento
a rabeca do rio.
O voar-garça branca
E o nadar-surubim.
O saber de sertão
o falar do começo
o murmúrio do meio
o silêncio do fim.
                                                                      
O segredo do sapo
(quando fora do brejo)
o sentir do sentente
(quando fora do tempo).
O acorde e o arpejo
(como é? como foi?)
O mugido bem longe
de uma vaca, de um boi.
O sentir da semente
quando vira  capim?

Sem relógio sem hora
sem ruído nenhum
o lavrar da formiga
e o cavar do cupim
quando é nunca e agora!
e o  zumbido, o zunzum
de um punhado de abelhas
e outros bichos que há
entre lago e lagoa
entre o mato e lá fora.

 A orquestra afinada
do verão das cigarras
quando o sol chega perto,
quando o dia é tão quente
que até a noite se aquece
no fogão das estrelas.
E a sombra se abana
e até a  chuva se esquece
de chover quando é hora.
Quando a água do  rio
(devagar, de repente)
tem saudade da água
em que a vida se molha
em que a tarde se afoga
quando o rio São Francisco
vem das Minas de cima
pra banhar  Pirapora...








 
Eu. Eu?

Acordo e não lavo o rosto.
Faço alongamento e torto
escovo os dentes de um outro?
Me visto pra não sair
de pijama e sobretudo.
Esqueço o dever-pra-casa
e não faço o “dever-pra-vida”.
Me esquivo de ser quem fôra.
Me escondo de ver eu-mesmo
(essa doença do sonho).
E não busco qualquer saída,
qualquer rumo me leve
pra onde eu não quero ir.

Me re-invento de santo
de palhaço e equilibrista
de saltimbanco e sambista
de bispo, cavalo e torre,
e no jogo-xadrez de sempre
Prefiro a rei, ser peão!
Volto à escola e re-soletro
de trás pra frente o “abc”.
Re-aprendo a ser sentente
(como o que mora em você
E você nem nunca sente!)

Me disfarço de ermitão.
Começo perto do fim
e não chegar ao começo
É o que eu planejo, e assim
não sonho ser quem desejo
e amar quem eu não mereço
é tudo o que eu quero, enfim.

Quero escalar o Aconcagua
e lá do mais alto gritar
pra quem em ouça e ninguém:
“esqueço o que eu sei de mim
e o que eu faço é o que não fiz!”
Mas quando eu volto pra casa
onde eu vivo, mas não moro
escrevo num quadro a giz
(e logo depois apago)
tudo o que eu tenho a dizer
te teoria e teorema,
pergunta, prece, oração
prefácio, tese e poema
(de que sou sempre aprendiz).
pro  livro de poesia
que eu nunca escreverei...
E mais geografia e receitas
de pão de queijo e farofa,
de “ratatuia” e feijão.

Caio fora da internet,
(que você domnina e eu não!)
de blogs, do face-book
do msn e das redes
(que te enredam dia-a-dia).
Até sentir que, esquecido
de quem escreveu tudo isso
já não sei se sou ou não
esse, que ainda há quem chame:
de Carlos Rodrigues Brandão.




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