ALGUNS POEMAS DE RIOS AVES E MARES
Três aves sobre o Sena
As luzes do barco dos turistas
clareiam de repente o lenço branco
do vôo de três aves sobre o Sena.
Os turistas do barco que navega o rio
olham com espanto as luzes da Torre Eiffel.
Fazem poses para fotos entre eles e a torre
e festejam o raro estarem ali àquela hora
quando é tão frio e escuro o mês de março.
As aves claras se assustam e volteiam alto
e saem depressa das luzes e da cena.
Quem terá visto por um breve momento,
o voar de fada de três aves sobre o Sena?
Uma Gaivota no mar em Honfleur
O sino de uma igreja inteira de madeiras
toca as doze horas, mas em nada atrapalha
o suave pouso de uma gaivota na água
e o seu deixar-se estar ali, apenas,
como quem vem de muito longe
e agora chegou, e pousa e não nada
e nem voa e nem tem pressa alguma.
Aos que passam pelas calçadas acima
na enseada mansa do mar de Honfleur
a gaivota na água, imóvel como um monge
ensina segredos de ser zen:
estar ali como quem já foi e ouvir o vento
e deixar-se, sem mover, ir-se com o vento.
Uma cegonha em Ponferrada
No alto de uma alta chaminé
a cegonha fez o seu ninho de gravetos
como uma casa às avessas sobre a casa
onde os homens se escondem do frio e do tempo.
De pé, como quem vigia o mundo
ela espera o sol da Primavera.
Passarinhos de uma cor escura
voejam ao redor do ninho da cegonha
e nos seus ocos abaixo de seus pés
fazem os seus pequenos ninhos.
A cegonha os acolhe sem cuidados
e sobre a silenciosa casa dos homens
de janelas fechadas e cortinas
uma comunidade de cantos e de asas
acena do alto de uma chaminé sem fogos
ao passar apressado de um trem sem rumos.
Inverno de 2008
Carlos Rodrigues Brandão
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