sexta-feira, 7 de outubro de 2011

FOLHAS AO VENTO - décima terceira viagem


FOLHAS AO VENTO

Décima terceira viagem

UM DIA MUITO LONGE
Poemas meus espalhados, sem referência de tempo e de lugar


Desejos

Quisera tocar-te agora
E se a isto um nome é digno,
Que ele seja água ou algo claro.
Roçar com os dedos a alma de teu corpo
Como quem navega e chega ao porto
E descobre nela a sua casa
E os quadros na parede, o filtro, a porta
E o quintal, a lareira e o jardim.
















Abelha branca, zumbes


Amorosa amiga alguma noite antiga
te fez a fios de fogo e foi embora
e sobra o  silêncio em frente à tua casa.
Os deuses do sentido chamo em teu nome
com o ardor de abril e o mel de maio
e convoco, irmãos e iguais, Oxossi e Pã.

Aranha e maga, arranhas a teia do vestígio
e do arvoredo. O rios da seiva te ornam
e de madeira dura é o pano de teu corpo
de pinho feito e de pólem,  de poeira.
Vasto é o sentimento e nele viajas
como quem vai na gávea e vai no leme
e voas ao aceno das estrelas
e velejas no arcano de teu lume aceso.

Pois és o fogo e a brasa e és a areia e algo em ti
arde desde a autora à hora do segredo
quando o teu dorso amado afago, e navegante
vou com a mão entre o medo e o estuário
do teu ser etéreo e de argila. E se estremeço
é porque colho com a boca nos teus olhos
o aceno afoito da nave errante do desejo
como a água atenta ao brilho de uma estrela.

Goiânia
1987
(com sugestões de Pablo Neruda)






nem pão, nem flor

Nada tenho que te dê:
nem pão nem flor
e esse agosto de um mar ao longe
nos devolve, amiga, a dor
de havermos saído do silêncio
sem saber cantar a deus e ao mal.
Mas se uma estranha memória me devolve o mar
,Não sei porque estas rosas de julho
Não floriram ainda e nem porque
Este vulcão do México se cobriu de naca
E silencia.
Não sei, não somos e o silêncio passa
Sem ser no entanto nada, agora e antes.

Lemos palavras que outros escreveram

Aqui, neste livro velho de receitas
Soletramos vogais mas bem sabemos
Que a vida se escapa destes signos
E fechado o livro nós esquecemos
O que houve e quem somos nós em agosto.

(poema escrito em uma última página de um livro cujo nome esqueci.
 Deve ter sido no México DF, Pelas indicações de um endereço acima)

 





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